A Universidade pelo olhar de uma estudante cega: os desafios da inclusão - Unijuí

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A Universidade pelo olhar de uma estudante cega: os desafios da inclusão

Na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, estamos abordando, em uma série de reportagens, o processo de inclusão na Unijuí. Nesta terceira publicação, acompanhamos um pouco da rotina de Fernanda dos Santos Pereira e a inclusão para cegos na Unijuí.

“A gente precisa ter paciência, conversando tudo se resolve”. A frase, dita com a voz calma, soa como um conselho. Fernanda dos Santos Pereira, estudante de Psicologia da Unijuí, mostra como o mundo mais inclusivo faz toda a diferença. Ela é cega e, além dos estudos na Universidade, dedica parte do seu dia a auxiliar a instituição na melhoria dos processos de inclusão, atuando no Núcleo de Acompanhamento e Acessibilidade Institucional (NAAI).

       
Acima está a imagem em que aparece Fernanda dos Santos Pereira em sala de aula.

Ela enxerga o mundo pelos sons, pelo tato, pelos cheiros. E, com estes sentidos, sai todos os dias de casa em busca de formação, para aprender e também ensinar. Por isso ela evoca a paciência e o diálogo, é assim que ela supera obstáculos que surgem no caminho. “A Unijuí está iniciando uma jornada, que é longa. Mas isso é muito bom, pois nem todos estão aptos e dispostos nessa jornada rumo à acessibilidade. Nosso papel é entender e dar o nosso melhor em relação a isso. Me sinto orgulhosa de poder fazer parte disso e, no futuro, quero poder olhar para trás e dizer: conseguimos!”.

Acompanhamos um pouco da rotina da estudante. Pedimos licença para frequentar uma aula com ela e com a agente educacional que lhe acompanha na trajetória acadêmica, Joceane Severo. Preocupada, Fernanda, ainda na tarde, pediu para avisar que poderia chegar um pouco atrasada, que iria direto para a sala de aula, pois havia firmado compromisso com a Medianeira Transportes. Estava mostrando aos cobradores e motoristas, na prática, como usa o transporte coletivo pela cidade e o que pode melhorar para a acessibilidade. Chegou por volta das 19h15, com a aula já iniciando. Da porta da sala, foi possível ver os funcionários da empresa indo embora em um dos coletivos que levam e trazem Fernanda e os demais estudantes com vendas, dialogando.

Antes de Fernanda entrar na sala de aula, a professora chegou até a porta para questionar como deveria proceder na organização da prova, que será realizada na última semana de agosto. E, com um breve diálogo, tudo ficou acertado. Tais arranjos são necessários para a organização da professora, de Fernanda e Joceane. Já arrumada em sua classe, ela liga um gravador de voz e abre seu notebook. São seus instrumentos de estudo. Escreve o que a professora dita para a turma. Durante as discussões sobre as teorias de Freud, ela se posiciona no debate, sob os olhos atentos de Joceane, preparada para o auxílio em sala de aula.

Para além dessas combinações prévias antes de eventos importantes do semestre, como uma prova, por exemplo, é necessário adaptar as metodologias de ensino, garantindo o acesso para Fernanda e outros estudantes cegos da Universidade. Por exemplo, quando se passa um filme em sala de aula, o ideal é que ele seja dublado, facilitando a compreensão do conteúdo.

       

Acima está a imagem em que aparece Fernanda, a agente educacional Joceane e a professora dialogando na porta da sala de aula.

“O que diferencia a Universidade é a vontade de crescer, porque tem gente disposta a fazer, a tentar. Isso é uma coisa muito boa e rara. Aqui em Ijuí nunca tinha visto isso, pois não é uma cidade acessível. É só olhar para as nossas ruas, para as nossas calçadas. Além disso, vejo uma vontade muito grande dos professores, dos vigilantes e profissionais de diversos setores em ajudar, em tentar fazer com que tudo possa ser acessível”, complementa.

Na organização institucional, a agente educacional está ali para conduzi-la na realização do sonho do curso superior, auxiliando na organização dos materiais de estudo, na rotina acadêmica, acompanhando os deslocamentos pelo campus, trabalho que também coloca muitos desafios no caminho. “O que não podemos é criar dependência, o caminho quem faz são os alunos, a gente conduz, auxilia. Não podemos interferir na construção de conhecimento deles, e sim estimular a independência. Esse é o maior desafio”, salienta Joceane.

Como você pode ajudar? Algumas dicas simples da Fernanda:

- Dirija-se diretamente para a pessoa cega, se ela estiver acompanhada;

- Não tenha receio de conversar, pergunte se é preciso ajudar;

- Para conduzir, o cego segura no cotovelo de quem guia, que estará um pouco na frente. Verbalize se existem obstáculos no caminho.


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