“Eu me interesso pela defesa dos Direitos Humanos”, Daniela Arbex, autora de “Holocausto Brasileiro” - Unijuí

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“Eu me interesso pela defesa dos Direitos Humanos”, Daniela Arbex, autora de “Holocausto Brasileiro”

                  

A Semana Acadêmica do curso de Psicologia está debatendo o tema “Ética, Cuidado e Direitos Humanos”, com diversos convidados. Na noite de terça-feira, dia 03, a jornalista Daniela Arbex conversou com o público no Salão de Atos Argemiro Jacob Brum sobre o livro e o documentário “Holocausto Brasileiro”, contando os bastidores das obras que denunciam a morte de 60 mil pessoas no maior hospício do Brasil. A oportunidade de dialogar com a autora gerou reflexões sobre a luta antimanicomial no país.

Confira, a seguir, uma entrevista com a convidada do evento, realizada pela Unijuí FM. Arbex é jornalista, escritora e documentarista. Natural de Juiz de Fora, Minas Gerais, escreveu os livros “Holocausto Brasileiro” (2013), “Cova 321” (2015) e “Todo o dia a mesma noite: a história não contada da Boate Kiss” (2018). Com mais de 300 mil exemplares vendidos, seu primeiro livro virou documentário da HBO, em 2016. Em breve a entrevista completa sairá no Encontro Casual, da Unijuí FM.

- Você pode contextualizar a sua fala no evento, intitulada “Os bastidores do Holocausto Brasileiro?

Daniela Arbex:  O “Holocausto Brasileiro” conta a história da morte de 60 mil pessoas no maior hospício do Brasil, localizado em Barbacena, Minas Gerais. É um resgate dessa história pela voz dos sobreviventes que nunca tinham sido procurados. Eu tive acesso a fotos que foram feitas dentro desse hospital em 1961 pelo fotógrafo da revista “O Cruzeiro”, chamado Luiz Alfredo, quase 50 anos depois que elas foram feitas e eu fiquei muito impactada. Essas imagens mostram não um hospital, mas um campo de concentração. São muito fortes. Foram essas imagens que me levaram a fazer essa busca e investigar o destino e o paradeiro dos sobreviventes para que eles pudessem contar o que viveram no lugar.

Eu falei dos bastidores dessa investigação, de como foi fazer essa busca, do porquê da escolha desse tema, do meu envolvimento com essas histórias e com a reforma psiquiátrica em si. Geralmente é um encontro que gera muitos debates e de profunda reflexão. Por onde eu tenho passado, tenho discutido muito e tem sido muito proveitoso esse contato com os estudantes.

- Como é a sua relação com esses temas?

D.A: Eu me interesso pela defesa dos Direitos Humanos. A minha carreira é toda pautada nessa defesa e a saúde mental é um tema muito sensível, porque são pessoas silenciadas. Mais do que isso, invisíveis!

Desde o início dos anos 2000 eu tenho toda uma história com a saúde mental, de denunciar irregularidades e violações dos direitos em hospitais psiquiátricos da minha cidade. Matérias que foram tão fortes que levaram ao fechamento de vários lugares. Eu fui construindo a minha história contando essas histórias e a saúde mental está muito presente na minha vida, assim como a violência contra a mulher, a questão da infância, da criança, a questão da educação. Isso tudo está muito presente nos temas em que eu trabalho.

- Você também escreveu um sobre a tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria. O que te levou a buscar esse assunto?

D.A: Nem sempre o jornalista é quem escolhe a história que ele vai contar, às vezes ele é escolhido pela história. E eu me sinto assim nesse caso da Boate Kiss. Eu fui procurada por um radialista do meu grupo de comunicação em 2016. E ele falou que tinha conhecido uma enfermeira de Santa Maria pelas redes sociais e que ele achava que eu tinha que contar essa história. Naquele momento eu falei para ele: “olha (Moreno), todo mundo já contou essa história e Santa Maria fica do outro lado do mundo”, porque para quem mora no interior de Minas Gerais, qualquer lugar é o outro lado do mundo. E ele falou muito sério: “não, você que não está entendendo. Você precisa contar essa história”. Aquilo mexeu comigo. Então eu resolvi dar uma olhada nas redes sociais para ver o que os pais estavam falando, mas aleatoriamente. Caí em uma página em que um dos sócios da boate estava lamentando o fato de não ter mais comemorado o aniversário dele desde que aconteceu o incêndio e uma mãe respondeu: “você não comemorou o seu aniversário, não? E a minha filha que foi comemorar o aniversário dela de 22 anos com quatro amigas e nenhuma voltou para casa?”. Quando cheguei em Santa Maria, percebi que tinham inúmeras histórias ainda não contadas. Mais do que isso, percebi que os profissionais da área da saúde nunca tinham falado sobre o que viveram. Eu fiquei muito surpresa nas entrevistas de ver que eles, trabalhando juntos depois disso, não se permitiram falar sobre o que aconteceu, tamanho o trauma. Médicos abandonaram a emergência em função do trauma que viveram, hoje nenhum dos bombeiros envolvidos no socorro às vítimas está trabalhando, estão aposentados, não aguentaram continuar. Afetou milhares de pessoas, direta e indiretamente. É uma tragédia do Brasil e a gente precisa construir memórias sobre ela, porque se a gente não construir, outros incêndios vão acontecer. Vejo hoje pela repercussão, da forma como o livro vem sendo adotado em várias universidades do país, tanto quanto “Holocausto” e por várias áreas, que ele está cumprindo o papel de conscientização e de mobilização.

                    

Mais sobre a Semana Acadêmica

O evento é promovido pelo curso de Psicologia da Unijuí e Centro Acadêmico de Psicologia - Pluripsique. Para a professora coordenadora do curso, Elisiane Schonardie, a Semana Acadêmica tem a finalidade de formar os estudantes com uma programação diferenciada, com eventos que propiciem reflexões em torno da temática escolhida. “Do ponto de vista da formação do psicólogo, tanto a temática, quanto o momento de uma semana acadêmica é muito rico na formação do profissional. Manter esta postura reflexiva é uma atitude que eles levam depois para o campo de atuação”, observa.

Além da atividade com Daniela Arbex, nos dias 4 e 5, o evento contou, respectivamente, com a seguinte programação: “A Atuação do Psicólogo no Contexto da Saúde do Trabalhador”; “Redução de Danos”. Nesta sexta, dia 06, encerrando as atividades, será realizada a discussão “A Função do Cuidador no Processo de Subjetivação dos Bebês que Frequentam Escolas de Educação Infantil”.

Entrevista editada com o auxílio de Giovana Carré, estudante do curso de Jornalismo.


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