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Pelas estradas de Cabeceiras

Por: Juliana Andretta

 

”Levantem cedo que vamos sair às 7h”, disse a nossa professora na segunda-feira, antes do dia em que iniciaríamos nossa jornada pelo município de Cabeceiras, no estado do Piauí. Na terça-feira acordamos ansiosos pelo novo dia que nascia. Já estávamos sabendo que Cabeceiras tem esse nome pelo fato de ter nascido na cabeceira de dois riachos: o Santo Antônio e o São João, que desaguam nos dois grandes rios da região, o Longá e o Maratauã.

As comunidades são afastadas e, ao longo do trajeto, podemos perceber a beleza de um lugar totalmente diferente daquele onde moramos. A época chuvosa na qual chegamos em Cabeceiras nos permitiu ver a vida em sua forma mais graciosa, deslumbrante, simples, mas encantadora. As frutas mexiam com o nosso paladar: cajus, babaçus, tucuns, carambolas, mangas, pitombas, entre tantas outras. As árvores verdejantes sobre o solo arenoso produziam o contraste natural entre as cores na natureza, onde porcos, cabras, bois e galinhas de angola andavam livres, sem limite de cercas. Depois descobriríamos que os mesmos voltavam para casa quando a noite chegava, mas quando a aurora surgia, a liberdade corria solta novamente pelas planícies, onde a mata dos cocais exibe seu reinado, fornecendo para todos o que desejarem lhe extrair.

Chegar às localidades de Cabeceiras é presenciar uma experiência geográfica: o município faz parte do território dos Carnaubais, na microrregião do baixo Parnaíba piauiense, localizada no norte do estado. Uma área do município situa-se na região da mata dos cocais e, grande parte da mesma, a equipe de extensionistas já conheceu: São Bento, Olho D’ Água, Cantinho, Mutuca, Saquarema, Vaca Brava 1, Bom Futuro, Vaca Brava 2 e Carnaíbas. Cada uma delas com uma característica peculiar, uma beleza exótica, um jeito único de ser.

Algumas se destacaram por apresentar questões de grande relevância para o desenvolvimento local. A impressionante atividade das quebradeiras de babaçu esteve representada nas comunidades de São Bento, com o foco na produção de sequilho, bolo e a pêta, ou rosquinha de polvilho, para nós, e na Mutuca, que produzem azeite de babaçu e carvão, localidades das quais mulheres constituem a Associação de Mulheres Produtoras Rurais na Agricultura Familiar Extrativista e Artesã. A mandioca é um dos produtos mais cultivados do município. Tanto é que em várias comunidades haviam casas de farinha, nas quais ocorria o processo de transformação da raiz em farinha para a fabricação de outros alimentos. Visitamos Vaca Brava 1, acompanhados por um proprietário, que nos explicou a forma como era organizada a casa de produção. Já o núcleo de Cantinho, apesar de ser um dos mais afastados do centro do município, também despertou o encantamento de quem viu o manejo das cabras em malhada rumo ao pasto, com seus sinos badalantes.

O que pode ter sido mais marcante neste dia? A beleza da simplicidade. Se compararmos nossas vidas, nossas roupas, nossas casas, nossos alimentos com o que vimos aqui no Piauí, veremos que a alegria de viver vem do coração. Não importam nossos bens materiais, importa se estamos felizes. Fomos convidados para entrar em casas de chão batido, ganhamos frutas como presente, sorrimos ao céu aberto, sob uma árvore. Luxo? Bens? Riqueza? De modo algum. Mas a forma como nos acolheram e transmitiram sua alegria em nos ver ali, junto com eles, nos fez sentir que a vida é ser, e não ter.








 
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