Dia Mundial da Água: Unijuí FM conversa com a bióloga Francesca Werner Ferreira sobre a importância da preservação e manutenção dos recursos hídricos - Unijuí

Dia Mundial da Água: Unijuí FM conversa com a bióloga Francesca Werner Ferreira sobre a importância da preservação e manutenção dos recursos hídricos

Essencial para a vida; presente em cada célula do nosso corpo humano e extremamente importante para o cultivo e manuseio de alimentos, a Água é o assunto desta quarta-feira, 22 de março, data em que se comemora o Dia Mundial da Água. E para falar sobre o assunto, a Unijuí FM conversou com a professora do curso de Ciências Biológicas da Unijuí, Francesca Werner Ferreira. A docente é bióloga com mestrado e doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Além disso, Francesca integra um grupo de pesquisas na Universidade dentro do campo da Biodiversidade e Ambiente, onde estuda o Diagnóstico e Biomonitoramento Ambiental na Região Noroeste do Estado. Confira, abaixo, a entrevista completa:

 

O que podemos destacar sobre essa data a fim de explicarmos a importância do Dia 22 de Março?
Nós tivemos, a partir da Rio 92, a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro em 1992, uma recomendação para se tratar de forma especial a questão da água. Essa recomendação foi feita pela própria ONU (Organização das Nações Unidas) e, em 1993, a Assembleia Geral da ONU instituiu o dia 22 de Março como Dia Mundial da Água. Desde então, a ONU propõe temáticas que devem focar na importância da água doce e defender a gestão sustentável dos recursos da água doce. Então, a cada ano, eles ressaltam um aspecto específico que deve ser discutido e efetivamente focado, chamando bastante a atenção para esses temas. Desde 1994, que foi o primeiro Dia Mundial da Água, várias temáticas abordaram questões como a Sustentabilidade; as mulheres e a questão da água, em muitos países nós temos a responsabilidade do abastecimento doméstico nas mulheres, especialmente naqueles países com escassez de água, onde elas viajam quilômetros para buscá-la; a questão das águas subterrâneas; água para o desenvolvimento; água para a vida; e relacionando a questão da cultura também. Esse ano temos uma temática relacionada ao Saneamento Básico, são as Águas Residuais. É uma temática que retorna. Em 2001, a temática principal foi a questão da Água e Saúde; em 2008, especificamente, o Saneamento; 2010 foi a Água Limpa para o Mundo Sadio; 2011 foi Água para as cidades, respondendo aos desafios urbanos. E agora retorna, de novo, a temática do Saneamento Básico.

O Saneamento Básico seria, atualmente, o principal problema enfrentado pelo Brasil nessa questão?
Existe um desperdício bastante grande de água em nível mundial por alguns setores. Obviamente, a questão do Saneamento nas cidades chama bastante a atenção. Dentre os objetivos de desenvolvimento do milênio, a água potável era uma meta para que até 2015 o acesso fosse maior do que 50%, considerando os níveis de 2001. E que o Saneamento também acompanhasse a oferta da água potável. Entretanto, a meta da oferta de água foi alcançada, mas a meta do Saneamento não. Inclusive ela foi adiada para 2018, 2020 e, agora, está com uma meta para alcançar aquilo que seria necessário em 2001 para 2025. Então temos, efetivamente, muito trabalho pela frente. Por exemplo, a maior parte dos municípios brasileiros não tem Saneamento Básico relacionando a questão dos tratamentos de efluentes do esgoto doméstico.

Que ações o Governo e outras entidades têm adotado para chegar a esse objetivo em 2025?
Nós temos no Brasil, desde 2007, o Plano Nacional de Saneamento Básico. Aqui em Ijuí, por exemplo, temos o Plano Municipal de Saneamento Básico, que atende algumas questões como a oferta de água potável de boa qualidade. Aqui no município a gente já tem isso. Mas não atende aos outros eixos do Saneamento Básico que falam sobre a questão da drenagem urbana. Nós temos, em Ijuí, problemas de drenagem. Com essa quantidade de chuvas, pois temos tido um verão bastante chuvoso, temos vários pontos importantes aqui na cidade que sofrem alagamentos. A outra questão é o próprio Saneamento Básico relacionado ao esgoto doméstico. Estamos em implantação aqui há alguns anos. Uma obra que começou bem atrasada, a partir de um contrato realizado com a Corsan, e que tem uma série de problemas de ordem prática mesmo. Da execução. Por conta das questões políticas, financeiras, etc. E sobre a questão dos resíduos sólidos, que faz parte do Saneamento Básico e que nós ainda não temos uma solução, grande parte dos municípios da região não tem um trabalho efetivo na questão da redução da quantidade de resíduos, como também do tratamento desses resíduos que forem dispostos em aterros e assemelhados. A maior parte dos municípios também não tem tratamento de esgoto. Ainda temos uma grande parte da população, doméstica ou não, que faz a ligação do seu esgoto cloacal com a drenagem pluvial das ruas, o que acaba causando problemas muito graves aos nossos recursos hídricos da cidade. Os arroios que cortam o município são canais de esgoto.

Na sua opinião, dia 22 de março é uma data importante para destacar este tema anual mas, também, para tocar no tema da Educação Ambiental?
Sim. Nós temos a responsabilização de duas partes: o Poder Público, que tem a responsabilidade da fiscalização e implantação de programas; e a população tem a responsabilidade, por exemplo, de fazer a ligação correta quando passar o serviço de esgotamento em frente a sua casa ou prédio. É dever do munícipe fazer essa ligação, da mesma forma como é dever do munícipe fazer a separação dos resíduos para que haja uma coleta seletiva eficiente.

A professora representa a Unijuí no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Ijuí. Explique a importância dessa entidade e quais foram as últimas ações propostas ou que estão sendo desenvolvidas aqui na região?
Nós tivemos, ontem mesmo, uma reunião do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Ijuí onde discutimos algumas questões de ordem prática como, por exemplo, o Plano da Bacia Hidrográfica do Rio Ijuí. Nós executamos, no período entre 2011 e 2012, a fase A e fase B do plano de Bacia, que consta a questão do diagnóstico, que obviamente já está ultrapassado. Nós temos muitas ações que foram feitas depois de 2001. Mas muitas coisas que foram dadas e retiradas de forma secundária, não direta, nos municípios. Então isso vai ter que ser refeito. Além disso, tivemos o enquadramento das águas da bacia. A maior parte do nosso rio Ijuí tem uma água de razoável qualidade, considerada classe 2. Mas temos alguns pontos de estrangulamento em relação à qualidade. Esses pontos são associados aos três maiores municípios, que são onde os rios e arroios passam muito próximos da cidade, recebendo toda a carga de esgoto. Aqui em Ijuí, um dos pontos de estrangulamento em termos de qualidade de água é o Rio Potiribú, nesse trecho em que ele passa do lado da cidade e acaba recebendo os efluentes dos arroios que cortam o município. E recebem, então, praticamente todo o esgoto. Como eu falei antes, uma boa parte da cidade ainda faz uma ligação do esgoto cloacal das casas e prédios com o pluvial, e acaba drenando para esses recursos hídricos, caindo no Rio Potiribú, que é um afluente importante do Rio Ijuí. Os outros pontos são nas cidades de Panambi, o Rio Fiúza, e o Rio Itaquarinchin, em Santo Ângelo. Esses foram considerados prioritários nas ações que acontecem desde 2011. No meu ponto de vista ainda de forma devagar, considerando a urgência, mas efetivamente, os municípios estão fazendo algumas ações em relação a isso. É preciso dizer que, às vezes, as pessoas não dão muita importância. Ou quando a gente passa no Centro de Ijuí e vemos ruas fechadas e buracos. As pessoas ficam muito chateadas e irritadas, porque a Corsan está abrindo mais um buraco. Mas temos que levar em consideração que é um período de tempo não tão grande assim e, infelizmente, é uma obra que não aparece. Ela fica embaixo do asfalto, enterrada, mas certamente traz benefícios muito grandes em relação à Saúde e questão ambiental do município.

De que forma levar esse Dia Mundial da Água para que a população o enxergue como uma ação constante e não apenas tratável nessa data?
Com certeza todas as escolas, hoje, estão comemorando esse dia. Tentando focar nesse dia. Nem sempre chamando a atenção, especificamente, para essa temática. Que também não é tão importante de uma forma isolada. Mas chamando a atenção no dia a dia porque tudo tem uma influência. Eu falei da questão das águas residuais, que é o tema principal, mas falamos do lixo, da drenagem e da importância da recomposição das matas ciliares, que são essenciais para a qualidade da água do rio. Ao longo do Rio Ijuí temos muitos trechos que são praticamente lavouras dentro do rio. Então é preciso chamar a atenção para o fato de que tudo está integrado. Essa ação isolada relacionada ao Saneamento Básico está vinculada com as questões mais amplas do meio ambiente.


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