"Se Educação de qualidade é apenas para alguns, teremos cada vez mais injustiças sociais" - Unijuí

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"Se Educação de qualidade é apenas para alguns, teremos cada vez mais injustiças sociais"

Attico Chassot, professor, pesquisador e escritor é um dos autores que publicam pela Editora Unijuí. Uma das obras em circulação, intitulada “Para que (m) é útil o ensino?”, trata-se de uma provocação, nas palavras do próprio autor, observando que a obra procura trazer alternativas para um ensino mais útil na busca da cidadania. A Universidade lançou, também, a obra “Alfabetização Científica: questões e desafios para a educação” mais recentemente. Chassot concedeu entrevista para o site da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (ABEU) em que comenta as aspectos das suas obras. Confira a seguir:

                   

- O seu livro publicado pela Editora Unijuí busca apresentar alternativas de ensino que sejam estimulantes para alunos e proveitosas para professores, de modo a criar um ambiente educacional mais produtivo para todos. Mas no título sua obra traz uma espécie de provocação: "Para que(m) é útil o ensino?". Poderia comentar sobre a escolha dessa pergunta diante dos temas abordados?

Por primeiro parece oportuno referir que Para que(m) é útil o ensino? (1995, 1ed) é um dos meus seis livros ora em circulação. Honro-me em destacar que destes, quatro são de editoras universitárias. Este livro foi tecido com excertos de minha tese de doutorado na Ufrgs, em 1994, Para que(m) é útil ensino de Química? Esta é uma quarta edição ampliada. Quase um quarto de século pode parecer muito tempo, especialmente se nos dermos conta que entre nós a gênese dos estudos no ensino das Ciências é da última década do Século 20. Os livros envelhecem (ou, talvez, maturam) com velocidades muito diferenciadas. Mesmo podendo ser colocado em suspeição, ouso afirmar que este livro é ainda atual.

Está bem-posta a afirmação de que o título traz uma espécie de provocação. Não foi confortável constatar, depois de já ter sido professor há mais de três décadas, que a maioria do que se ensinava acerca da Química na Educação Básica era inútil ou não tinha serventia. Este livro traz alternativas para um ensino mais útil na busca da cidadania. 

- Hoje, se perguntarmos a qualquer cidadão ou representante político estes dirão que a educação é certamente uma área de suma importância para a formação de uma sociedade mais igualitária, desenvolvida e digna. Este discurso é um típico lugar-comum dito pelas pessoas: a educação é algo positivo para o crescimento de um país e ninguém nega este fato. No entanto, por que continuamos a ter problemas crônicos na educação brasileira, na infraestrutura de escolas e na condução de pesquisas mesmo no Ensino Superior? Há uma hipocrisia na forma com que tratamos a educação?

É quase um senso comum que a Educação é muito importante para a construção digna de uma sociedade mais justa. Provavelmente há consenso nisso. Mas, lamentavelmente isso é uma utopia. Hoje, com a Educação transformada em mercadoria –- e uma mercadoria muito bem valorizada e muito apetecível ao mercado –- ela promove exatamente o contrário: um mundo mais injusto. Se Educação de qualidade é apenas para alguns, teremos cada vez mais injustiças sociais. Hoje parece mais atual a afirmação que coloquei na portada do sexto capítulo: A (re)produção do conhecimento químico: Se a educação que os ricos inventaram ajudasse o povo de verdade, os ricos não dariam dessa educação pra gente (Frase que recolhi afixada em um cartaz, na Fundep/DER, em Braga, RS).

- Por fim, gostaríamos de saber o que ainda o impele a ser um professor tão atuante até hoje, mesmo com mais de 50 anos lecionando e com presença em diversas instituições de ensino

Vou tentar trazer respostas a esta pergunta –- que tem sido muito recorrente ao professor que no próximo ano (2018) se fará octogenário –- em duas dimensões. Numa sou o receptor das ações e em outra sou o doador.

Tenho dito (e ainda escrevi recentemente em mestrechassot.blogspot.com) que há ações –- como estar a quase cada semana em estado diferente do Brasil dando palestras –- que tonificam ou revitalizam meu ser professor. Metaforicamente é a dopamina que preciso para potencializar necessidades a um pleno funcionamento de meu cérebro. Envolvo-me há mais de cinco anos na REAMEC (Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática) em um (ex)(in)tenso voluntariado que inclui ministração de seminários nos estados amazônicos, presença em atividades docentes e orientação de teses doutorais. As semanas que não tenho viagem sinto uma abstinência ‘dessa dopamina’.

A segunda dimensão à resposta desta pergunta está referida ao contexto onde está inserta esta entrevista: Associação Brasileira das Editoras Universitárias. Tenho brincado que se um dos critérios para um bom lugar no paraíso (que parafraseando Gaston Bachelard, deve ser uma imensa biblioteca) for o número de livros transportados, eu só perco para livreiros. Tenho orgulho de eu já ter disseminado livros em cada uma das 28 unidades da federação. Sinto-me um mascate levando sempre uma mala de livros. Posso dizer que para centenas de jovens brasileiros eu oportunizei terem um primeiro livro autografado. Não é sem a minha contribuição física que A Ciência é masculina? É, sim senhora! (Editora Unisinos) chegou a 8ª edição em 2017 ou que Alfabetização científica: questões e desafios para educação (Editora Unijuí) terá seu relançamento em Belém em junho de 2018. Devo dizer que de todos os livros que escrevi este é o meu preferido. Talvez porque desde a primeira edição, em 2000 os direitos autorais de todas edições são destinados ao Departamento de Educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST).

Estas são as duas dimensões: numa sou o receptor porque o meu ser professor é revitalizado pelas minhas ações e na outra sou o doador, pois com o semear livros ensejo que meus leitores se envolvam na construção de um mundo mais justo.

Mais sobre o autor

Foi professor na Educação Básica em diversas Escolas (Jacob Renner, em Montenegro; São José e Pedro Schneider em São Leopoldo; Concórdia, Israelita Brasileiro e Júlio de Castilhos em Porto Alegre) cursos pré vestibulares (IPV, Arquimedes, CAFDR) e de Universidades como a PUC-RS, FAPA, UFRGS (coordenador do Curso de Química e diretor do Instituto de Química) ULBRA, UNISINOS (Coordenador do Mestrado e Doutorado em Educação; do Centro Universitário La Salle, em Canoas; do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) no Campus de Frederico Westphalen e do Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão do Centro Universitário Metodista – IPA. Foi professor visitante na Aalborg Universitete na Dinamarca. É Orientador de doutorado na REAMEC - Rede Amazônica Ensino de Ciência.

Confira as obras no site da Editora Unijuí.


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