A SELIC, OS BANCOS E A PANDEMIA - Parte II - Unijuí

COMUNICA

PORTAL DE NOTÍCIAS DA UNIJUÍ

A SELIC, OS BANCOS E A PANDEMIA - Parte II

Argemiro Luís Brum

 

O isolamento social prejudica sim a economia, porém, em países onde a economia é desestruturada em seu funcionamento, particularmente na relação entre crédito bancário e clientes, o quadro piora sensivelmente. O caso brasileiro é ímpar neste sentido. Senão vejamos: diante da pandemia, o Copom reduziu a Selic (taxa básica de juros) para 3,75% ao ano em março e para 3% agora em maio visando reanimar a economia (aliás, desde outubro de 2016 a Selic vem sendo reduzida com este intuito). Ao mesmo tempo, em março a busca por crédito aumentou em 21% junto às famílias brasileiras, porém, o juro cobrado a elas foi de...95% ao ano! A linha de crédito chamada de “composição de dívida” (quando o cliente não paga o cheque especial, o crédito consignado e/ou o cartão de crédito) cobrou juros anuais de 96% em março. Como esperar que a demanda retome ao se endividar nestes níveis? Enquanto isso, o lucro dos bancos no Brasil subiu 20,5% em 2019, atingindo a R$ 118,7 bilhões, sendo o mais alto desde 1994. Um crescimento absurdo diante de uma economia praticamente parada desde 2014 (o crescimento médio da mesma, nos últimos três anos, foi de 1,2% ao ano, e na última década ao redor de 0,3% ao ano). Não é por nada que 88% do crédito total disponibilizado no Brasil em março foi absorvido por grandes empresas. Ou seja, o crédito, mesmo com o governo tentando orientá-lo em meio à pandemia, não chega a quem mais dele precisa. Assim, sem conseguir corrigir esta distorção, o governo libera crédito com poucos efeitos práticos na economia, engordando os lucros bancários e elevando o déficit público (R$ 600 bilhões neste ano), levando a dívida pública a 90% do PIB. E nossos gastos públicos, para enfrentar a pandemia, estão muito acima da média de 50% do PIB das demais economias emergentes. Assim, o problema que teremos, depois da volta ao “normal”, será muito mais difícil a resolver do que em países com perfil econômico semelhante. Portanto, há muito mais e profundas razões que explicam a crise econômica brasileira do que o isolamento social diante da pandemia.   


Compartilhe!

Utilizamos cookies para garantir que será proporcionada a melhor experiência ao usuário enquanto visita o nosso site. Ao navegar pelo site, você autoriza a coleta destes dados e utilizá-los conforme descritos em nossa Política de Privacidade.