Professor compartilha experiências no Laboratório de Análise de Resíduos de Pesticidas - Unijuí

Professor compartilha experiências no Laboratório de Análise de Resíduos de Pesticidas

Em continuidade ao ciclo de palestras da disciplina de Agrotóxicos na Saúde e no Ambiente, ofertada pelo Programa de Mestrado em Sistemas Ambientais e Sustentabilidade da Unijuí, sob a coordenação do professor doutor Roberto Carbonera, foi proferida a palestra “Análise de resíduos de agrotóxicos: contribuições do Laboratório de Análises de Resíduos de Pesticidas (LARP) da UFSM”, pelo professor doutor Renato Zanella. O convidado é coordenador e responsável técnico do LARP, vice-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), líder do Grupo de Pesquisas em Análise Cromatográficas e pesquisador do CNPq na área de resíduos e contaminantes em alimentos e amostras ambientais

Em seu relato, o professor Renato Zanella trouxe contribuições à turma de mestrandos, professores e demais estudantes da Universidade, discorrendo sobre a sua experiência junto ao LARP, na UFSM, e a importância das pesquisas e análises realizadas para a melhoria da qualidade do ambiente e dos alimentos. O LARP desenvolve e aplica métodos para determinação de agrotóxicos, medicamentos veterinários, hormônios, fármacos, PCBs, POPs, dentre outros, em diversas matrizes como hortigranjeiros, água, leite, carnes, peixes, cereais com a identificação e quantificação de resíduos e contaminantes. Neste contexto, presta serviços para órgãos oficiais, como a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Ministério Público Federal (MPF), empresas, agricultores e pesquisadores científicos que buscam o monitoramento sistemático de contaminações por agrotóxicos. Assim como desenvolve pesquisas científicas para identificar possíveis causas de problemas evidenciados em alimentos, água, animais e plantas.

Quanto ao uso de agrotóxicos, cada produto registrado e autorizado para aplicação possui na sua bula para quais cultivos pode ser aplicado e, a partir disso, tem-se por legislação o limite máximo de resíduo que poderá ter após a aplicação. Além disso, consta informações quanto à forma de utilização, dosagem de aplicação e o intervalo de carência, que representa o período de segurança, entre a aplicação e a colheita, que permite a redução dos resíduos de agrotóxicos a um nível seguro. A ocorrência de agrotóxicos nos alimentos e no meio ambiente é resultado de aplicações inadequadas e muito frequentes, dosagem excessiva, não observância do intervalo de carência para o consumo dos alimentos após a aplicação e da distância das áreas de proteção, deriva, volatilização, dentre outros fatores, conforme explicou Zanella.

Neste contexto, pode ocorrer a presença de resíduos de agrotóxicos em alimentos. Os agrotóxicos são autorizados para utilização e deixam resíduos do próprio princípio ativo do produto, bem como dos seus metabólitos, que representam os produtos da sua degradação após a aplicação nos cultivos. Por outro lado, encontram-se os contaminantes que são substâncias que não foram usadas intencionalmente nos alimentos. Dentre estes, encontram-se micotoxinas pela ação de fungos, metais oriundos dos próprios adubos químicos, dioxinas, bifenilos policlorados (PCBs), hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAH), dentre outros. Essas substâncias podem estar presentes nos alimentos como resultado das várias etapas de sua produção, embalagem, transporte, retenção ou podem resultar de contaminação ambiental.

Durante e após a aplicação dos agrotóxicos, dependendo do produto e/ou formulação, podem ocorrer até 20-30% de perdas por volatilização pelas ações do vento e do calor. Por esse motivo, normalmente são incorporados produtos que auxiliam na fixação e reduzem esse percentual. Além disso, pode ocorrer a deriva durante a aplicação pela ação do vento que desloca partículas de pesticidas pelo ar até uma superfície que lhe permite a deposição ou retenção. Os alimentos são produzidos no meio ambiente e agrotóxicos são utilizados para a sua produção, desta forma, não há como dissociar da contaminação do solo, do qual pela ação das precipitações pluviométricas intensas podem carrear essas substâncias tóxicas para a água, sendo solubilizadas ou não, dependendo dos compostos. Além disso, a própria água da chuva pode carrear partículas em suspensão no ar. Alguns estudos no estado do Paraná comprovam a presença de agrotóxicos no próprio ar através da análise de material particulado obtido em amostragens de filtros. 

No Brasil, há mais de 500 princípios ativos de agrotóxicos registrados,  dentre eles inseticidas, herbicidas e fungicidas. Os mais utilizados são o glifosato; 2,4-D que tem apresentado muitos problemas relacionados à deriva em videiras, oliveiras, macieiras; mancozeb; acefato; atrazina; paraquat e o imidacloprido, dentre outros.

Para a realização das análises, o LARP utiliza as técnicas Cromatografia Gasosa acoplada à Espectrometria de Massas em série (GC-MS/MS) para a análise de inseticidas que são mais voláteis, e Cromatografia Líquida acoplada à Espectrometria de Massas em série (LC-MS/MS) para análise de herbicidas, fungicidas, fármacos e medicamentos veterinários. Quanto à realização das análises, as amostras são preparadas de acordo com o tipo de matriz, analisadas em equipamentos específicos e são identificados e quantificados os compostos presentes utilizando um padrão específico para cada um dos compostos que se deseja analisar na amostra.  

Com relação ao monitoramento da qualidade ambiental, o professor Zanella destacou o trabalho com relação às análises relacionadas à presença de agrotóxicos em água para consumo humano, que seguem portarias nacional e estadual, que determinam a análise de agrotóxicos para avaliar a sua potabilidade. No entanto, para alguns compostos autorizados para aplicação na agricultura, não há especificação de limites máximos permitidos em água. Ainda, salienta que na comunidade Europeia os limites para qualquer agrotóxico são muito menores que os permitidos pela legislação brasileira, os quais possuem uma variação muito grande quanto à tolerância, desde valores muito baixos até muito elevados. Além disso, no Brasil, não há o limite máximo permitido para o somatório de agrotóxicos presentes em água para consumo humano, sendo que na comunidade Europeia o somatório deve ser menor ou igual a 0,5µg/L. Nos monitoramentos da qualidade de águas superficiais realizados em 2014 e 2015, foram detectados inseticidas, fungicidas e herbicidas em baixas concentrações. Dentre eles, destaca-se a atrazina que é detectada em quase todas as amostras analisadas no estado do RS.

Como resultado de seu trabalho na área científica, Zanella possui inúmeras publicações nacionais e internacionais a partir de análises em diferentes matrizes ambientais. Estes estudos demonstram a importância do monitoramento da qualidade dos alimentos e das águas com relação à presença de agrotóxicos visando a sustentabilidade da vida para as presentes e futuras gerações.

Márcia Sostmeyer Jung, Cleusa Maria Rossini, Daiana Zambonato

Mestrandas do Programa de Pós Graduação em Sistemas Ambientais e Sustentabilidade - PPGSA, Unijuí.


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