Mestrado em Sistemas Ambientais e Sustentabilidade recebe pós-doutora em aula - Unijuí

Mestrado em Sistemas Ambientais e Sustentabilidade recebe pós-doutora em aula

Neste mês, a disciplina de Agrotóxicos na Saúde e no Meio Ambiente, do Programa de Mestrado em Sistemas Ambientais e Sustentabilidade da Unijuí, contou com mais uma participação especial. Participou da aula a doutora em Epidemiologia, pós-doutora em Estudos da Criança pela UMinho (Universidade de Portugal), Iara Denise Endruweit Battisti, a convite do professor doutor Roberto Carbonera. Iara teve uma longa trajetória na Unijuí. É egressa do curso de Informática (1996), foi docente nas disciplinas de Estatística e Bioestatística nos cursos de graduação da área da Saúde até o ano de 2009 e hoje atua como professora associada na UFFS (Universidade Federal da Fronteira Sul), campus de Cerro Largo/RS.

Dentro das suas pesquisas, o foco está voltado para a exposição ocupacional a agrotóxicos e saúde humana. Iara trouxe estudos de sua autoria ou orientação, que mostram dados referentes à periculosidade que os agrotóxicos causam à saúde, tanto do trabalhador agrícola quanto aos seus familiares.

Inicialmente, trouxe uma estimativa da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), do ano de 2015, que apontou que cada pessoa consumia o equivalente a 7,3 litros de agrotóxicos por ano, ou seja, este é o volume de produtos utilizados proporcional por habitante. Essa estimativa é uma crescente e até o presente ano o consumo de agrotóxicos no Brasil só aumenta. O País é líder mundial no consumo de agrotóxicos, sendo o Rio Grande do Sul o estado que mais se destaca na utilização deste produto.

Outro dado relevante apresentado foi a descrição dos agrotóxicos que são comercializados no Brasil, mas que não são autorizados à comercialização na União Europeia (UE). Esses agrotóxicos deixam resíduos na água, no milho, no arroz, e comparado com os dados da UE, os limites permitidos no país são duas vezes maiores. Já em comparação com a soja, o nível de resíduos de glifosato é 200 vezes maior. 

Quando associado o consumo de agrotóxicos à saúde humana, o Inca (Instituto Nacional do Câncer) lista alguns que podem causar danos à saúde, desenvolvendo alterações e doenças nos mais variados sistemas funcionais do organismo, como, por exemplo, alterações neurológicas, endócrinas, depressão, comprometimento auditivo, respiratório, além dos mais diferentes subtipos de câncer.

Iara traz uma preocupação especial aos impactos que os agrotóxicos trazem à saúde da criança. A exposição para os pequenos acontece através da manipulação ou ingestão de alimentos e/ou água, pela manipulação de objetos que foram utilizados na aplicação de agrotóxicos, por residirem próximo a plantações, e ainda na desinsetização doméstica. Nesse sentido, a pesquisadora realizou uma revisão integrativa sobre agrotóxicos e saúde da criança, com busca de artigos científicos na base de dados Pubmed. Foram encontrados 285 artigos que atendiam aos critérios de inclusão, dentre estes, 32 foram selecionados. Dos selecionados, 10 eram da América do Sul e apenas 5 artigos brasileiros. Nessa pesquisa, Iara investigou os métodos usados na intoxicação de crianças e quais os principais agravos constantes da contaminação. Dentre os principais comprometimentos elencados no estudo, destacam-se as intoxicações, danos citogenéticos, danos congênitos, efeitos neurológicos, danos respiratórios, disfunção endócrina e leucemia, todos associados à exposição aos agrotóxicos.

Relacionado à exposição ocupacional, no Brasil existem 1.681.001 estabelecimentos agrários, e desses 33,1 % usam agrotóxicos. Em relação ao Rio Grande do Sul, 256.099 estabelecimentos agrícolas são identificados, e destes 70,2 % utilizam agrotóxicos. Já na cidade de Ijuí, encontram-se 1.441 estabelecimentos agrícolas e destes 88,6% indicam usar agrotóxicos na função agrícola. A partir desses dados, gerou-se uma preocupação com a promoção da saúde dos agricultores do nosso município e a importância da implantação de políticas públicas que auxiliam na prevenção e cuidado aos problemas e agravos. Iara faz uma divisão dos problemas de saúde em agudos, subagudos e crônicos, e mostra estudos que enfatizam o uso de EPIs (equipamentos de proteção individual) como forma de prevenção a esses agravos.

Ainda como forma de atuação na promoção da saúde dos agricultores, cita a Norma Regulamentadora 7 (NR7), a qual prevê exames periódicos de sangue para controle de intoxicação e diagnóstico de intoxicação aguda. Porém, a norma traz algumas limitações, tendo em vista a pequena gama de produtos químicos que podem ser identificados na corrente sanguínea. A prevenção é a melhor forma de evitar complicações severas à saúde, e essa prevenção está relacionada a várias questões tanto de proteção individual quanto da conscientização coletiva para o uso indiscriminado de contaminantes.

A turma concluiu que os estudos da professora são extremamente relevantes e trouxeram uma grande contribuição para os mestrandos da disciplina, o que acabou gerando uma importante discussão e troca de conhecimentos, além da identificação da preocupação da pesquisadora com o tema e sua constante busca por mais dados e comprovações científicas que confirmem suas teses. 

  

Daiana Zambonato

Liziane Kraemer

Mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais e Sustentabilidade - PPGSA


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