
A professora dos cursos de Engenharia Química e do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sistemas Ambientais e Sustentabilidade, Fernanda da Cunha Pereira, apresentou, na última semana, os resultados do projeto “Produção de Biogás e sua Utilização em Geração Distribuída no Conceito de Smart Grid: Perspectivas e Desafios para a Região Noroeste e Missões do RS”, financiado pela Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Estado do RS.
A apresentação dos resultados foi feita durante a reunião do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema). Na ocasião, a professora fez a entrega da Cartilha sobre Biogás, elaborada a partir dos dados gerados no Roadmap da Cadeia de Biogás. O Roadmap representa uma das principais entregas do projeto, reunindo informações técnicas, econômicas e institucionais sobre a cadeia do biogás na macrorregião Noroeste e Missões.
O documento fornece uma visão integrada do ecossistema, identifica atores e barreiras e organiza caminhos de ação em curto, médio e longo prazos. Além de alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o Roadmap se propõe como um guia dinâmico e atualizável, capaz de orientar o monitoramento de metas e a adaptação das estratégias conforme surgem novas evidências, garantindo maior efetividade e continuidade às iniciativas relacionadas ao biogás.
Já a Cartilha, estruturada a partir do Roadmap, apresenta de forma acessível conceitos fundamentais sobre o biogás, suas fontes de produção e as etapas do processo de geração. O material foi elaborado para aproximar o tema da comunidade acadêmica, dos gestores públicos e dos produtores rurais. O conteúdo inclui um fluxograma simplificado que descreve desde a origem da biomassa utilizada como substrato até a conversão em energia e co-produtos, como o biofertilizante.
“Essa iniciativa busca não apenas divulgar o potencial do biogás para a matriz energética e ambiental da região, mas, também, incentivar o uso consciente dessa tecnologia como alternativa sustentável para o aproveitamento de resíduos agroindustriais e urbanos”, destaca a professora Fernanda.
Outros projetos
Além deste, foram apresentados outros dois projetos pela docente, aprovados via Consulta Popular e financiados pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul, que estão em fase inicial.
O primeiro é chamado de “Ampliação e Qualificação do Laboratório de Análises Ambientais da Central Analítica da Fidene para Avaliação de Agrotóxicos em Soluções Alternativas Coletivas de Abastecimento de Água nos Municípios do Corede Noroeste Colonial”. O segundo é o “Ampliação e Qualificação do Laboratório de Análises Ambientais da Central Analítica da Fidene para Caracterização da Qualidade da Água para Consumo Humano em Soluções Alternativas Coletivas de Abastecimento de Água nos Municípios do Corede Noroeste Colonial”.
De acordo com a professora Fernanda, os projetos observaram que a economia do Corede Noroeste Colonial é fortemente baseada na agropecuária, com destaque para a monocultura de soja, milho e trigo, além da produção animal. Eles têm como objetivo avaliar 165 amostras de água provenientes das Soluções Alternativas Coletivas dos municípios abrangidos pelo Corede, em conformidade com o Plano Estratégico de Desenvolvimento Regional 2015/2030. Sendo que cada amostra passará por análises físico-químicas, microbiológicas e de resíduos de agrotóxicos.
“Cerca de 20% da população da região consome água proveniente de Soluções Alternativas Coletivas, captadas principalmente de poços subterrâneos. Esses recursos hídricos representam uma fonte estratégica e fundamental de abastecimento, suprindo a demanda de água e possuindo inestimável valor econômico e social. Por isso, devem ser compreendidos, monitorados e explorados de forma racional, assegurando sua disponibilidade para as futuras gerações.”
A docente explica que estudos nacionais e internacionais têm evidenciado a presença de resíduos de agrotóxicos em corpos hídricos, água potável e alimentos. Esses contaminantes, quando presentes em níveis acima do permitido, podem comprometer tanto a qualidade da água quanto a saúde humana, uma vez que alguns estão associados a efeitos tóxicos cumulativos e de difícil controle.
“No contexto regional, onde a agricultura intensiva é predominante, torna-se essencial o monitoramento contínuo desses resíduos para garantir a segurança da população e a sustentabilidade ambiental”, reforça.
Segundo ela, a agricultura também é reconhecida como uma das principais fontes difusas de poluição por metais pesados, um problema global devido à difícil remediação desses elementos, que não são biodegradáveis e apresentam controle complexo. Esses metais podem se originar de impurezas em fertilizantes, de formulações de agrotóxicos e do descarte de dejetos animais.
Na região do Corede Noroeste Colonial, conforme destaca, os desafios relacionados ao saneamento básico ainda representam riscos ambientais e de saúde pública. Entre eles, evidencia-se a contaminação da água por coliformes totais e fecais, como a bactéria Escherichia coli, associada a diversas doenças de veiculação hídrica. Esse risco é agravado em áreas onde a captação de água ocorre em poços subterrâneos mal vedados ou próximos a potenciais fontes de contaminação.
“Com essa iniciativa, a Unijuí reforça sua atuação em pesquisa científica aplicada, buscando soluções sustentáveis para desafios ambientais e de saúde pública. Além de trazer benefícios diretos à população local, os resultados obtidos poderão servir como referência para formulação de políticas públicas e estratégias de monitoramento em outras regiões do Brasil e do mundo, alinhando-se aos compromissos globais da Agenda 2030 e à preservação dos recursos naturais para as gerações futuras”, finaliza.